Agência americana fornece informações sobre o sistema de censura que pode ter afetado Street Fighter V

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Mika Cammy

Jogos de luta podem ser considerados pioneiros em alguns aspectos do mundo dos jogos. Muitos consideram o berço dos campeonatos competitivos que hoje acabam movimentando milhões de dólares (ironicamente mais relevantes em outros gêneros como MOBA e FPS), o que hoje é chamado de e-sports. Embora não sendo aclamados pela crítica, quatro dos cinco primeiros filmes baseados em jogos são sobre jogos de luta ou derivados (Double Dragon, Street Fighter e os dois primeiros Mortal Kombat), mostrando que este é um dos gêneros mais expressivos no quesito expansão para outras mídias. Mas uma das maiores “contribuições” do gênero para o mercado de jogos foi ser o motivo da criação do Conselho de Certificação de Softwares de Entretenimento (Entertainment Software Rating Board, ou ESRB), agência americana que é a mais conhecida agência de censura de jogos no mundo.

A ESRB foi uma iniciativa da própria indústria de jogos, que após a popularidade de Mortal Kombat, um jogo com violência explícita, resolveu criar um conselho para direcionar o marketing dos jogos para um público apropriado, sob alegações de que MK teve uma campanha de marketing direcionada a um público considerado infantil demais para esse conteúdo. O governo americano não estava satisfeito com as políticas da época, como a da SEGA em avaliar ela própria seus jogos (a SEGA exibia o selo MA-13 na capa do jogo, que na classificação deles indicava Audiência Madura, acima de 13 anos), ou com a política da Nintendo, que afirmava que todos os jogos em seus consoles eram apropriados para todos os públicos (razão da famigerada censura da versão do SNES onde o sangue foi removido).

Desde então a ESRB foi responsável por várias polêmicas no mundo dos jogos (e virou motivo de ódio de muitos jogadores), e com o lançamento de Street Fighter V o Conselho recebeu novamente os holofotes da mídia especializada. Como divulgado antes aqui no blog, duas cenas foram alteradas durante a fase de beta do jogo, o Critical Art de Rainbow Mika (em que a câmera foi levantada, e com isso o tapa na bunda que ela dá para sinalizar o início do golpe não está mais enquadrado, apenas subtendido) e a introdução de Cammy (que teve o ângulo de câmera mudado para que sua virilha fique menos destacada). Isso mais uma vez levantou a questão da controvérsia, censura, sexualização excessiva, entre outras.

Mika Change

Relembrando as animações alteradas de R. Mika e Cammy

Duas declarações foram feitas por parte da Capcom à imprensa à respeito do assunto. O famoso Yoshinori Ono declarou que as mudanças foram feitas com o objetivo de atingir um público mais abrangente, e que essas animações poderiam deixar alguém desconfortável. Ele também garantiu que foi uma decisão interna da Capcom, sem nenhuma influência externa. Já o Diretor para Marketing da Marca e E-Sports da Capcom, Matt Dahlgren. deu uma declaração diferente, mostrando que realmente pode ter existido alguma influência da ESRB nessa alteração das animações. Dahlgren disse que por ser um produto em desenvolvimento, ele sofrerá ajustes em alguns pontos, e se eles considerarem algo tenha ido longe demais, eles irão revisar. Mas a declaração mais interessante é essa: “Nós trabalhamos muito próximos da ESRB para garantir que somos uma franquia de categoria Teen (categoria americana que indica 13 anos e acima), e esse é principal fator que guia o desenvolvimento”. Essa declaração contradiz a de Ono, e agora surgiram algumas informações que podem esclarecer esse processo.

De acordo com uma declaração oficial da ESRB: “A ESRB fornece um processo informal de pré-revisão, que está aberto à todos os desenvolvedores e publicadores que enviarem seu jogo para classificação. A ESRB não diz aos desenvolvedores e publicadores o que colocar no jogo, mas nós fornecemos uma orientação geral à respeito do conteúdo que provavelmente resultaria em uma classificação mais restritiva. À partir daí cabe ao desenvolvedor decidir como proceder. Devido à natureza confidencial do processo, a ESRB não elabora ou fornece detalhes sobre quais jogos nem sobre o conteúdo que foi pré-revisado.” Essa declaração indica que embora a ESRB não decida o que pode ou não fazer parte do jogo, ela fornece informações que indicam para os desenvolvedores qual a classificação do jogo no momento e o quê mudar para conseguir uma classificação mais abrangente. E é isso pode ter acontecido com Street Fighter V.

Um usuário do Reddit, que afirma trabalhar na ESRB forneceu informações mais detalhadas sobre o processo, e dentre elas as mais relevantes são que eles recebem um vídeo do jogo, mostrando seu conteúdo mais extremo, no contexto apropriado. Após isso os avaliadores analisam e decidem a classificação. Então essa classificação é comparada com a de outros jogos com conteúdo similar, e caso não haja uma coerência, uma equipe mais acima define uma classificação diferente. Ele também afirma que o processo dura em média uma semana, à menos que os desenvolvedores paguem por uma avaliação prioritária. Após isso eles obtém o direito de publicar a classificação do jogo. Com isso temos as informações para começarmos a nossa análise.

A última vez que vimos as animações originais oficialmente foi na segunda fase do beta, que durou entre os dias 22 e 25 de Outubro. O site Attack of the Fanboy publicou que Street Fighter V tinha recebido a categoria Teen dia 4 de Novembro. Então, no dia 7 de novembro, em um vídeo publicado pela IGN em seu canal do Youtube, pudemos ver pela primeira vez as animações alteradas (no caso o CA da R. Mika). Como temos informações que o processo dura por volta de uma semana, é perfeitamente possível que essa pré-avaliação tenha sido feita entre a abertura do beta 2, em tempo para ser publicada no dia 4 de Novembro.

A Capcom decidiu acatar as recomendações da ESRB para que seu jogo possa ser promovido para um maior público, resultando e um número maior de vendas, em troca de ocultar parte do conteúdo original. Muito embora existam jogos que parecem mais sexualizados e mesmo assim receberam uma classificação Teen, esse processo não parece ser uniforme, e jogos com maior exposição da mídia são analisados com mais critério. Nada indica que essa mudança será revertida, então resta ao público aceitar, ou buscar algum jogo que satisfaça suas necessidades, caso Street Fighter V não seja o caso.


Fonte: The Angry Gamer

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