(Atenção: Este artigo reflete exclusivamente a opinião do autor, que não deve ser confundida com uma opinião do CounterHit.)
Nota: Posto acima o aviso de praxe, eu, o autor, afirmo que a maior parte do texto abaixo é uma crítica argumentativa, o que é diferente de uma opinião (que, a rigor, diz respeito a sentimentos e gostos pessoais).
Há uma onda de ódio contra a Capcom. Reddit, Facebook, comentários em sites especializados, onde há espaço para o público se manifestar, há reclamações coléricas contra a produtora e seus lançamentos de luta mais recentes, Street Fighter V e Marvel vs. Capcom: Infinite. Este artigo vem apontar o que eu acredito serem alguns exageros e injustiças.
Em momento algum direi que a Capcom é isenta de falhas. Mas isso não quer dizer que todo tipo de reclamação (e por tantas vezes pura ofensa, sem nenhuma crítica objetiva) esteja em boa medida. Minha crítica usa da mesma liberdade de expressão que qualquer um tem para reclamar e xingar. Ademais, é claro que não direi que todas as reclamações são fúteis ou injustas.
Quero me dirigir a certas queixas específicas, falando sobre duas delas conjuntamente:
1) DLC no dia 1 e contido no disco;
2) Gráficos do MVCI.
Comparado a outros gêneros de games, o de jogos de luta não é tão popular. Mas esse negócio tem que dar dinheiro, senão morre. Não obstante, tem que dar cada vez mais lucro, porque é assim que funciona o capitalismo. A estagnação mata aos poucos, mas mata. A rigor, não existe estabilidade.
Prosseguindo, lembra daquele vídeo que vazou, o que detalhava os planos da Capcom para o MVCI nos eSports? Atente para os lucros que ela projetou para si e para parceiros. Os números estão na casa das centenas de milhares. O que é isso perto dos lucros que envolvem títulos como League of Legends e Counter Strike? Pouco, evidentemente.
Acho curioso como algumas pessoas parecem querer um jogo de luta com gráficos maravilhosos, roster grande, um baita plano nos eSports, mas parece achar que a desenvolvedora tentar tornar seus produtos mais lucrativos (com DLCs, por exemplo) é feio. Você que faz esse tipo de reclamação, tem uma noção razoável do quanto é necessário lucrar com um jogo pra viabilizá-lo na época atual? Só porque uma certa abordagem dos negócios deu certo no passado, não quer dizer que vá dar certo hoje.
A Capcom tem apressado seus lançamentos? Talvez sim. Ou talvez haja um bom motivo para isso, como a necessidade de tocar seus projetos de eSports e DLCs para viabilizar/sustentar financeiramente todas essas atividades. Mais uma vez, ao criticarmos, estamos fazendo uma crítica embasada em fatos ou achismo?
Especificamente sobre DLCs no dia um, talvez seja uma estratégia válida para viabilizar um jogo dado o capital disponível para investimento inicial. Certamente seria pior se a empresa criasse o DLC antes do lançamento, mas o escondesse, sem divulgá-lo nem colocar no disco, revelando-o apenas alguns meses depois de soltar o jogo para evitar esse fuzuê. Chato, né? Que bom que a Capcom não faz isso.*
Mas não. Qualquer coisa que venha a desagradar o público é um convite para o trem do ódio partir e choverem acusações sobre a Capcom, aliás, não apenas sobre o problema em questão, mas também sobre uma miríade de outros pontos controversos trazidos à tona cada vez que alguém resolve reclamar da desenvolvedora por qualquer coisa. Lembrando, tudo isso realizado de maneira odiosa (o que é o objeto deste texto), não apenas crítica. Os papinhos se repetem, “Crapcom”, “SFV é um lixo”, “netcode do SFV é uma merda”, “tivemos que protestar que nem loucos pra que mudassem a cara da Chun-Li no MVCI” (não está bom nem quando a mudança pedida é feita! O trem do ódio é afobado…).
3) Diminuição da exigência na precisão da execução em MVCI e SFV
É óbvio que a Capcom tem tornado a execução mais fácil em seus dois últimos jogos de luta com o fito de conquistar mais público. Mudar o comando de alguns golpes, antes sendo o movimento do Shoryuken, agora sendo baixo, baixo + soco/chute; autocombos; aumentar a tolerância de links de um para três frames, etc. Coisas que certas pessoas odeiam, pessoas que gostam de mostrar esse ódio em comentários.
Primeiro, se você acha que execução mais fácil torna um jogo pior, saiba que está exprimindo tão somente uma opinião, uma observação totalmente subjetiva. Literalmente está no mesmo, diga-se, nível de gostar de azul e não de vermelho. A dificuldade de execução não faz parte da essência de um jogo de luta, portanto não é critério objetivo. Alguns ótimos vídeos sobre o assunto são esse e esse.
Segundo, todas as facilidades anunciadas para MVCI não interferem em estratégias avançadas por serem facilidades com resultados bem limitados. O sistema aponta para o bom e velho “fácil de aprender, difícil de dominar”. Coisa semelhante se dá em SFV: a distância entre jogadores experientes e novos foi encurtada, mas isso não significa que o caminho para os novos ficou fácil e as diferenças foram apagadas. Nada melhor do que a final de SFV do Evo 2017 e aquele artigo do Shoryuken para demonstrar isso.
Além disso, arrisco dizer que atrair mais pessoas e fidelizá-las não seja apenas interessante, mas necessário para a sobrevivência do gênero e do cenário competitivo.
No geral, certas facilidades podem ser exageradas? Talvez. A Capcom está tentando. Pode haver erros. Mas se você que gosta de xingar muito for um gênio e tiver uma fórmula mágica, avise-a, por favor.
Para refletir
Por último, deixo algumas sugestões sobre o que acho mais curioso, tenho observado muito disso por aí. Se você odeia SFV ou MVCI, não vai comprar e quer que se dane, o que raios você está fazendo em uma comunidade específica de um desses jogos? Parece que você quer apenas externalizar seu ódio miserável. Terapia funciona melhor.
A comunidade era de uma iteração anterior da série, mas mudou de nome e por um acaso você ainda continua lá, reclamando? Será mais proveitoso para todo mundo que se crie um grupo separado para a iteração do seu apreço, à qual você pode se juntar enquanto abandona a comunidade do jogo pelo qual você não tem interesse. A win/win situation.
Ou talvez você possa esbravejar menos e tomar alguma atitude útil, como o que tem sido feito em /r/StreetFighter: Uma pesquisa sobre detalhes específicos, com pedidos de mudanças, que, após concluída, é apresentada à Capcom (link).
Em tempo, gosto dos memes. O humor tem um valor crítico.
* EDITADO (10/09/17): Segue um complemento à questão de DLCs.
Pense no seguinte: Quantos personagens um jogo TEM que ter no lançamento para valer 60 dólares? Não há nenhum critério objetivo (ou seja, o oposto de subjetivo) para definir esse número. Quer dizer que, no que diz respeito a MVCI, com, digamos, 28 ou 32 personagens no lançamento a aceitação do público seria semelhante.
Suponha que esses seis personagens de DLC simplesmente não existissem atualmente e tudo o que existisse seria apenas os 30. Talvez você ainda quisesse mais personagens. Mas eu suponho que a não existência do DLC na data de lançamento anularia a revolta.
Sabemos que, na realidade de mercado atual, haverá DLCs de qualquer modo. Dado o exposto acima, que diferença faz haver DLCs no lançamento ou meses depois, sendo, nos dois casos, igual a quantidade de personagens destravados no lançamento? Nenhuma, ao menos objetivamente.
Porém, revoltar-se contra essa realidade de mercado remete ao que expliquei no início do artigo: para se julgar quais estratégias são justas ou não, precisa-se de dados concretos, do contrário está-se apenas chutando.